Memorial de formação

5
(3)

1 Apresentação

Me chamo Andressa Ferreira Porto, nasci no dia 07 de novembro de 1993, na cidade de Rio Branco, Acre. Sou filha de Aurelina e Antônio, servidores do estado do Acre. Tenho um irmão chamado André Luiz, nascido em 2001, estudante de direito. Atualmente casada com Carlos André, bancário, acreano, morando no bairro sagrada família em Belo Horizonte. Tenho uma cachorra chamada Luna de 1 ano de idade, que é a responsável pela alegria da casa.

Morei durante toda a minha vida no mesmo bairro da capital do Acre, chamado Xavier Maia. Fiz o meu ensino fundamental e médio em uma escola particular da capital do estado, chamada “Meta”, onde cresci, conquistei amizades e boas lembranças.

Quando terminei o ensino médio, não sabia qual curso seguir, mas sabia que era a área da saúde. Passei dois anos no cursinho preparatório, até conseguir ingressar no vestibular da Universidade Federal do Acre no curso de enfermagem.

 

2 Formação acadêmica

 Em fevereiro de 2011 iniciei o curso de enfermagem na Universidade federal do Acre. Fui bolsista do Programa de Iniciação Científica durante dois anos da graduação, com um dos trabalhos voltado para saúde sexual feminina. Enfrentei dois períodos de greve dos professores no início e no final do curso, tendo um pequeno atraso na minha formação. No final de 2014 iniciei o estágio extracurricular remunerado pelo governo do estado do Acre, onde pude trabalhar em um centro de saúde, exercendo atividades na coordenação de enfermagem, planejamento reprodutivo e acolhimento. Trabalhava 6 horas por dia, de segunda a sexta, e ganhava um salário mínimo na época. O estágio foi uma experiência necessária para meu crescimento profissional.

Em 2016 formei em enfermagem, e no dia 1 de fevereiro de 2017 iniciei o meu primeiro emprego como enfermeira assistencial do Hospital Santa Juliana, hospital filantrópico do Estado do Acre, com o enfoque de cuidados clínicos e maternidade, compondo o primeiro centro de parto normal da região norte do Brasil.

Durante o emprego como enfermeira, trabalhei nos setores de alojamento conjunto, clínica cirúrgica, central de material e esterilização, UTI neonatal e acolhimento com classificação de risco em obstetrícia do centro de parto normal.

Na mesma época, em 2018 fiz uma seleção para professora substituta da Universidade Federal do Acre, com a aprovação e atuando durante 1 ano e 6 meses como professora de diversos períodos do curso. Trabalhei dentro das disciplinas de fundamentos de enfermagem, clínica médica e cirúrgica, emergência, centro cirúrgico, saúde mental e psiquiatria e primeiros socorros.

Durante 1 ano e 6 meses trabalhei cerca de 76 horas semanais, atuando 40 horas como docente e 36 horas como enfermeira assistencial no período noturno. Apesar da carga horária extensa e cansativa, conseguia seguir firme nas atividades e com uma boa remuneração.

Após o período de docência, voltei a minha rotina de 36 horas semanais e recebi um convite para professora homenageada da turma de enfermagem, participando da solenidade. Apesar da experiência grandiosa, o trabalho de professora foi muito árduo, estudava muito e acompanhava alunos em práticas no hospital público da capital do estado. Fiz amizades que vou levar para a vida.

Durante esse tempo de pós formação, fiz um curso de pós-graduação online em UTI neonatal e pediátrica pela faculdade Unyleya. Tentei por duas vezes entrar na residência em enfermagem obstétrica da UFAC, porém sem sucesso. A carga horária extensa dificultava o estudo para a prova da residência.

Em 2020 participei de uma seleção para o mestrado, onde fui aprovada. Cursei o mestrado profissional em Enfermagem Assistencial, fruto de uma parceria da Universidade Federal Fluminense e Universidade Federal do Acre. Fiz meu estudo voltado para o desenvolvimento de um website para a orientação de gestantes que procuram o serviço de urgência das maternidades.

Um dos critérios para realizar o mestrado, é a experiência profissional de no mínimo dois anos, além disso, o projeto deveria ser direcionado para uma necessidade de acordo com a instituição de trabalho, então por trabalhar no acolhimento e classificação de risco em obstetrícia e lidar com diversas duvidas e inseguranças no final da gestação, fiz o projeto do website justamente para ajudar nessa demanda.

Em 2021 recebi a notícia de que Carlos André, na época meu noivo, seria transferido de Rio Branco para Belo Horizonte. Então decidi pedir demissão do hospital, acompanha-lo nesse novo desafio e continuar minha pesquisa de mestrado de forma online.

Em abril de 2021, chegando em Belo Horizonte, não procurei emprego, decidi adiantar minha pesquisa e dividir meu tempo com aulas online do mestrado e aulas online de curso preparatório para a prova da residência do Sofia Feldman.

Após uma rotina árdua de estudos, consegui a aprovação. Então precisei antecipar ainda mais a minha defesa da dissertação para poder assumir a vaga na residência. Assim eu fiz, defendi minha dissertação conquistando o título de mestre em enfermagem, e me permitindo a iniciar a especialização da tão sonhada área, enfermagem obstétrica. Parecia um sonho, depois de anos tentando fazer a residência em enfermagem obstétrica, consegui no hospital referência do Brasil em humanização.

3 Avaliação primeiro ano de residência

Primeiro ano da residência foi um ano MUITO intenso. É até difícil resumir um ano em um pequeno texto. Chorei, sorri, recebi elogios, mas recebi críticas também, conheci pessoas e formei amizades que espero levar para o resto da vida. Assisti mulheres renascendo, mulheres fortes, vítimas de violência, mulheres privadas de liberdade, adolescentes, mulheres de luto, mulheres de vários lugares de Minas Gerais, mulheres que saíram de outros estados procurando uma assistência melhor, cada uma com sua história e suas expectativas. Minhas “R iguais” e coordenação da residência reunidas em um café da manhã.

Teve parto a “jato” na recepção, parto prolongado, planejamento reprodutivo, notícias boas no pré-natal, notícias ruins, baixo risco, alto risco, contato pele a pele, parto cefálico, parto pélvico, e sempre uma equipe preparada para atender. Sobre as posições de parto, foram várias assistidas, sempre respeitando a vontade da mulher. Assisti parto sentada na banqueta, quatro apoios, em pé, semi-sentada, no banheiro, na banheira, cócoras, na recepção, no estacionamento. 

Sobre o cuidado ao trabalhador e residente, teve meditação, auriculoterapia, ventosaterapia, escalda pés, reflexologia podalica, chá de frutas, acolhimento, escuta, carinho e abraços apertados. A residência não é fácil, mas nunca passou pela minha cabeça em desistir. Foi difícil chegar até aqui, cada degrau foi necessário para meu crescimento. Apesar das dificuldades, sempre tem algo que me impulsiona a continuar. 

Semana passada foi a formatura dos nossos veteranos, e por várias vezes chorei durante o evento. Chorei quando falaram da família e da distância de casa, me emocionei também quando falaram da especialização ser na maior e melhor maternidade. Pensei por várias vezes em como estou sendo preparada para trabalhar em diversos lugares, e que sorte eu tenho em estar aqui e como sou privilegiada por isso.

Apesar de ter experiências boas, as experiências ruins me abalaram psicologicamente. Infelizmente passo por um processo de somatização, e sinto as consequências no meu corpo com crises de enxaquecas, dormência e formigamento nas mãos e pés e diarreia. Sigo realizando acompanhamento com especialistas para conseguir controlar essas situações e tentar manter a saúde física e mental.

 

Durante o primeiro ano de residência, passamos por uma avaliação realizada pelos preceptores. As vezes alguns elogios e críticas eram realizados pessoalmente, durante uma conversa. Me falaram sobre proatividade, que sou bem proativa e gosto de ajudar, resolver e solucionar problemas. Me falaram também da minha tranquilidade em trabalhar em equipe, ser cordial em conversar com as pacientes e ser profissional durante orientações e discussões. 

 

Entendi que me abalo com críticas, não deveria ser assim, mas é a minha forma de enfrentar a vida. Chegaram a me falar que não crio muito vínculo com paciente e a família, as vezes tenho poucas palavras e muitas vezes prefiro ficar em silêncio. Diante da perda de uma família de uma criança tão esperada, o que eu poderia falar naquele momento para aliviar a dor do luto? Não tem como, o silêncio pode ser acolhedor também. Durante a dor de trabalho de parto, o que eu posso falar? “Você está indo super bem”; “você já está conseguindo” ou posso apenas estender minha mão e ficar em silencio? E qual a conclusão dessa experiência?

Entendi que cada pessoa tem a sua forma de se relacionar pessoalmente e profissionalmente. Cada pessoa tem a sua linguagem de comunicação. As pessoas são diferentes, estranho seria se todos fôssemos iguais, né? Sempre fui muito quieta e realmente sempre tive dificuldade em criar vínculos, essa e uma forma que encontro de me blindar as emoções e não absorver as dores. Estamos em uma especialização e infelizmente alguns preceptores não entendem que somos adultas, formadas, com personalidade e nossas individualidades. Cada uma tem sua forma de trabalhar, relacionar, evoluir, conversar, e isso não me fará menos profissional do que uma pessoa que se envolve e cria vínculos e laços fortes. Assim sigo tranquila na minha caminhada.

Sou grata por tudo e sinto-me preparada para mais um ano de residência. Espero trabalhar muito e prestigiar muitas famílias renascendo. Espero aprender a lidar com as críticas e saber filtrar o que devo absorver. Espero respeitar cada história e poder fazer a diferença na vida de muitas mulheres. Espero que o segundo ano da residência seja um ano muito produtivo e abençoado.

Na foto acima estão minhas “R iguais” e coordenadoras da residência reunidas em um café da manhã, comemorando a virada do R1 para o R2.

Esta informação foi útil?

Clique nas estrelas

Média da classificação 5 / 5. Número de votos: 3

Nenhum voto até agora! Seja o primeiro a avaliar este post.

Lamentamos que este post não tenha sido útil para você!

Vamos melhorar este post!

Diga-nos, como podemos melhorar este post?