Relato de experiência

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Relato de experiência atendimento Unidade Carlos Prates

Diante dos atendimentos realizados na unidade ambulatorial do Carlos Prates, deparei-me com uma situação marcante. Em uma manhã durante a semana, no consultório, durante uma consulta de pré-natal de alto risco, atendemos uma paciente que vou chamá-la de Margarida.

Margarida, 36 anos, sexo feminino, preta, idade gestacional de 32s+2d, casada, mãe de uma filha do sexo feminino, trabalha como pipoqueira referindo ser a única renda familiar. Margarida faz acompanhamento no pré-natal de alto risco por DMG e asma, fazendo uso de insulina. Durante a consulta, Margarida referiu dificuldade em manter a dieta e apresentou relatório da glicemia capilar fora da meta. Queixou-se de ansiedade, dificuldades financeiras, pois é a única fonte de renda da família. Durante a consulta recebeu ligação o esposo, onde o mesmo perguntava onde ela estava, pois estavam a esperando para fazer o almoço para ele e a filha.

Durante a consulta, Margarida referiu comer tijolo com frequência e muita dificuldade de evacuar, além de apresentar uma fístula retovaginal, que a deixava constrangida, pois saia fezes com frequência da fístula, e a mesma não conseguia controlar a musculatura. Além da dor intensa que sentia quando tentava evacuar. Ao ser examinada para a visualização da fístula, Margarida chorava de dor, não suportou a colocação do espéculo. A equipe conseguiu visualizar a fístula, apresentando resquícios de fezes. Quando interrogada sobre o desejo de comer tijolo, Margarida referiu ser uma prática antiga, muito antes da gestação da primeira filha.

Ao terminar a consulta, foi modificada a dosagem de insulina, solicitado novos exames de rotina e avaliação com um proctologista, que seria realizada apenas após o parto. Além da conversa e apoio emocional, orientação quanto a manter a dieta de forma simples e tentar conversar com o parceiro sobre a sobrecarga de responsabilidade.

Após alguns dias, Margarida retornou para a consulta com a glicemia totalmente descontrolada. A equipe solicitou a internação imediatamente na casa da gestante para realizar o acompanhamento mais minucioso da dieta e glicemias. Durante a internação, Margarida precisou ser transferida ao setor de isolamento, onde pude acompanha-la novamente. A curva glicêmica melhorou significativamente, porém havia muita reclamação da dieta. Margarida referia sentir fome e falta de doces e comidas gordurosas. Apesar da resistência em manter o acompanhamento, foi possível observar uma melhora significativa no quadro de glicemia e constipação intestinal.

Diante desse caso, foi possível compreender a aflição de uma mãe que é responsável pela renda familiar e apoio emocional da filha e do esposo. Além da vontade em se manter saudável e compreender todos os riscos, Margarida seguia sabotando a sua própria saúde, devido a ansiedade e dificuldade em lidar com todos os sentimentos. Quando foi internada, teve uma melhora no seu quadro, mostrando que precisava de uma atenção maior e um olhar humanizado para a sua saúde física e mental.

Compreendemos também a necessidade de uma rede de apoio que a gestante deve ter nesse período tão difícil. Apesar da dependência financeira da família, a dependência emocional do parceiro deve ser reduzida como uma forma de diminuir a cobrança e a ansiedade sofrida pela paciente. Apesar de estar internada e manter-se sozinha durante a internação, percebemos Margarida feliz e cooperativa com o seu tratamento.

Relato de experiência atendimento Unidade Carlos Prates

Um belo dia de trabalho na semana na unidade Carlos Prates, cheguei preparada para realizar pré-natal de baixo risco e planejamento reprodutivo. Deparei-me com um atendimento de história marcante.

Vou chamar a paciente de “Rosa”. Rosa, 34 anos, G1Pc1, mora em Belo Horizonte, tem uma filha de 19 anos. Compareceu à unidade Carlos Prates para realizar inserção de Diu hormonal. Iniciamos a entrevista, e foi possível perceber que Rosa apresentava-se letárgica e com dificuldade para responder as perguntas. Rosa relata endometriose, cólicas intensas e sangramento aumentado durante as menstruações. Refere histórico de tromboembolismo pulmonar e transtorno psiquiátrico, onde realiza acompanhamento com psiquiatra e psicóloga, fazendo uso de aproximadamente 5 substâncias psicotrópicas. Ao ser perguntada sobre histórico de violência, Rosa começou a chorar incansavelmente. Após alguns minutos, a mesma respondeu que sofreu violência sexual há alguns anos, do parceiro da época. No momento parecia não querer 

Rosa foi orientada quanto ao Diu hormonal, riscos e benefícios, e informada sobre um dos efeitos colaterais do Diu hormonal ser a alteração de humor. Apesar do efeito colateral, se tratava de um método adequado para o uso de Rosa. Durante o exame físico e inserção do dispositivo intrauterino, Rosa apresentou-se preocupada e tensa. Após inserção sem dificuldade, Rosa queixou dor intensa e sensação de desmaio. Encaminhada imediatamente à sala de estabilização e administrado analgésico endovenoso. 

Rosa logo apresentou melhora no quadro, referiu melhora da dor e liberada para casa.

Vivência de prática na Atenção Primária em Saúde

Caro leitor, venho contar um pouco sobre a minha experiência no Centro de Saúde de Belo Horizonte. Tive experiência em Atenção Primária apenas quando estava na graduação, na cidade de Rio Branco no estado do Acre. O impacto foi grande quando vi a realidade da enfermagem em Belo Horizonte. A enfermagem tem dificuldade na autonomia, são impossibilitados de prescrever algumas medicações simples durante uma consulta de enfermagem. Não vi ações educativas ou grupos de pessoas para trabalhar educação em saúde. No Acre eu vivenciei grupos de gestantes, grupo de tabagismo, grupo de idosos (que até forró tinha rs). 

Durante essa fase da residência, realizei plantões durante 6 meses a cada 15 dias. Eu não tinha senha no sistema, então as enfermeiras me passavam o “login” para conseguir acessar o sistema até a minha senha ficar pronta. Realizava consultas de Pré-natal e coleta de citopatológico para o colo do útero. Atendia também mulheres que desejavam realizar mamografia, pois a enfermagem pode realizar a solicitação de mamografia pelo sistema. 

Vou contar sobre um atendimento a uma gestante que marcou. Vou chamá-la de margarida.

Margarida, 24 anos, G1P0, Ig: 38s5d, compareceu a 9ª consulta de pré-natal, com queixa de contrações intensas. Acolhi suas queixas e realizei uma dinâmica uterina, identifiquei 4 contrações de 50 segundos em 10 minutos. Diante da queixa, optei por realizar avaliação cervical: Colo 8 cm dilatado, 90% apagado, amolecido, cefálico, +2 de Lee, Bolsa íntegra. 

Naquele momento expliquei que ela estava em trabalho de parto e sua bebê poderia chegar a qualquer momento. Comuniquei a enfermeira que estava no consultório ao lado, que a partir daquele momento ficou ao lado da paciente e me orientou a ligar para o SAMU pedindo suporte para encaminha-la até o Hospital Sofia Feldman. Liguei para o SAMU e fui comunicada que o médico da equipe deveria “passar o caso”. Entreguei o telefone para o médico da equipe, que não sabia o que estava acontecendo naquele momento, mas repetiu no telefone tudo o que eu falava sobre o caso e avaliação que eu tinha feito. Enfim, encaminhamos a paciente até a sala de observação e aguardamos a equipe do SAMU chegar. Algumas pessoas chegaram e pediram para Margarida deitar na maca para “retardar” o processo. Orientei Margarida sobre sua liberdade de movimentação naquele momento para alívio da dor e que não havia necessidade de ficar deitada. 

A equipe do SAMU chegou até o Centro de Saúde, colocou Margarida na maca e a levou. Após algumas horas entrei em contato com a equipe do Hospital Sofia Feldman e fui informada que Margarida teve seu parto no Centro de Parto Normal poucas horas após sua chegada no hospital.

Para ser sincera, eu não gostei dessa vivência no Centro de Saúde. Os protocolos são bem diferentes, são desatualizados (Um exemplo é realizar o teste de Schiller durante a coleta de citopatológico do colo do útero. Esse teste não tem indicação desde 1900 e bolinha.)

E ainda passei por uma situação “difícil” com a gerente do Centro de Saúde, vou explicar melhor no texto a seguir:

CARTA DE REPÚDIO

 Venho através desta carta de repúdio expressar a minha indignação ao comportamento inapropriado e antiético da profissional, Gerente “A” do Centro de
Saúde. No dia 21/06/2023, às 13:00 horas, aconteceu uma reunião on-line pela plataforma Google Meet com a equipe do Centro de Saúde e a Coordenação da Residência em Enfermagem Obstétrica do Hospital Sofia Feldman (HSF), para alinhamento das funções dos residentes no estabelecimento de saúde. Participaram da reunião: a coordenadora da residência, a coordenadora da turma de residentes, as residentes Andressa Porto, “X”, “Y” e “Z”; Além da Gerente do Centro de Saúde “A” e a Enfermeira da Estratégia Saúde da Família “B”. Durante a reunião, a gerente, que aparentemente parecia receptiva e compreensiva nas solicitações e recomendações realizadas pela coordenação da residência e das residentes, apresentava um comportamento insatisfeito com o feedback da residente, chegando a referir que “faltava proatividade das alunas”. Sugeriu que deveríamos realizar outros atendimentos, como: puericultura, atendimento em sala de vacina, observação e dentre outros. Cabe ressaltar que se trata de um programa de residência que prevê atendimento a saúde das mulheres.
Ao final da reunião, a coordenadora, esqueceu de desligar a câmera e o áudio, e referiu a seguinte frase para sua colega de trabalho: “Essas meninas
são muito chatas”; “E aquela com cara de bunda”. Neste instante percebi que a ofensa foi direcionada a minha pessoa, pois era a única residente que estava com a câmera ligada. A gerente desligou o telefone após perceber que ainda estávamos na chamada. Todos os que estavam na plataforma viram e ouviram essa atitude antiética e constrangedora para as residentes.
Conforme a resolução do Conselho Federal de Enfermagem (COFEN) Nº 564/2017, que aprovou o Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem, no Capitulo I – é direito dos profissionais de enfermagem: Art. 1º: Exercer a Enfermagem com liberdade, segurança técnica, científica e ambiental, autonomia, e ser tratado sem discriminação de qualquer natureza, segundo os princípios e pressupostos legais, éticos e dos direitos humanos. Art. 2º: Exercer atividades em locais de trabalho livre de riscos e danos e violências física e psicológica à saúde do trabalhador, em respeito à dignidade humana e à proteção dos direitos dos profissionais de enfermagem.
Trago a reflexão sobre o comportamento antiético da Gerente: senti que os direitos supracitados foram transgredidos, uma vez que o processo de aprendizado ensino-serviço se baseia em preceitos éticos, comportamento apropriado no ambiente de trabalho, além do respeito para com os colegas, pacientes, preceptores, tutores, coordenadores e gerentes. Também ressalto o constrangimento que senti ao ser exposta por meio da fala da gerente para todos.
Levo para o conhecimento da Coordenação da Residência em Enfermagem Obstétrica, do Hospital Sofia Feldman, do Centro de Saúde o desejo de
desligamento das minhas atividades práticas do Centro de Saúde. Encerro esta carta sugerindo que ocorra um dialogo entre a coordenação do Programa
de Residência em Enfermagem Obstétrica do HSF, Gerência do Centro de Saúde para evitar que este tipo de situação volte acontecer, tendo em vista a importância que esta parceria tem para a formação humanizada dos profissionais residentes no atendimento das mulheres no município de Belo Horizonte.
Espero que esta manifestação de repúdio sirva de exemplo para a reflexão da Gerente, que exerce um cargo de liderança e por isto deve manter ética e respeito no
ambiente profissional.

Após essa carta, fui desligada do Centro de Saúde e transferida para outro. No novo Centro de Saúde eu não tinha agenda, pois não tinha senha no sistema. Então fiquei acompanhando consultas de controle de hipertensão e diabetes em idosos com a enfermeira assistencial. Após 4 plantões realizando essas atividades, finalizei meu ciclo na Atenção Primária.

 

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